segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Poesia - Venenum Vini


I. Ingredientes

Bem cheirosa com uvas mortas do Além,
É a larva que à Súcubo muito convém.
Trazida da terra dos mortos do norte,
Rica em proteínas do sangue da morte.

Uvas estas de bela cósmica roxidão,
Carregadas com doce ausência de perdão.
Colhidas onde demônios não avançam,
Maldizem maldições que poucos lançam.

Carregam consigo odores do abismo,
E da Súcubo, o tenebroso erotismo.
Atormentam quem as fita contemplativo,
Invalidam a luz e todo ser emotivo.

II. Produção

Trazidas de inexploradas infra dimensões:
São pisoteadas por frenéticas açougueiras,
Envenenadas por vis aranhas cuspideiras,
E energizadas com temor de imensidões.

São estapeadas violentamente à exaustão,
Por Ser cujas bocas e olhos estão nas mãos,
Até adquirirem cor de contorcida combustão,
E horrorizarem os responsáveis pelos grãos.

Grãos estes lindos que são jogados ao fogo,
E retirados novamente sob horríveis gritos.
A fim de serem misturados com as uvas,
No admirável cair das cintilantes chuvas.

III. Degustação

A peculiar degustação do vinho envenenado,
É realizada por rainha em tempo de reinado.
No inferno e planícies dos tolos condenados,
Onde todos são pelo vinho muito envenenados.

Quando corretamente amaldiçoado expande:
Toda a consciência em estelar união astral.
Toda a vida perde o sentido num instante,
Ao degustar os poderes do Mal ancestral.

Não se explica tal horror nem ao comer com prazer,
Toneladas de insetos e seres do amorfo desprazer.
Entretanto, inexprimível é a natureza orgástica,
De ingerir o líquido de esquecida seita orgiástica.

IV. Distribuição

A bebida é engarrafada em inquebrável material,
E imprecada com males mais uma vez por segurança.
Sua distribuição abissal é responsabilidade da Dança:
Aglomeração valsante de ossos e coisa imaterial.

São trazidas à terra através de onírica manifestação,
Pois tais bêbados indizíveis nos contatam por sonhos.
Alcançam com facilidade os mais loucos e tristonhos,
Possuem preferência por compositores da perdição.

Estes artistas humanos são dos mais vis e perversos,
Pois trazem com prazer o horror em lindos versos.
Encantam e maravilham incontáveis iludidos mortais,
E por fim os fazem brindar um Vinho dos mais letais.

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