sexta-feira, 25 de março de 2011

Poesia - Absorto Inominável

Ah! Mas foi num vislumbre intenso,
A partir-me a alma em vários de mim,
Todos repletos de dores sem fim;
Que aloucou-me a paz e padeci tenso:


O maldito e absorto inominável!


De penar incontestável a entreabrir-me,
Os males do oculto e obliterando-me,
Avançou atento e por ondas tenebrosas,
Por horríveis formas vis e escamosas:


Incontável criatura do argênteo luar,
Como vagas por terra e mar a amaldiçoar?
Donde raios infinda a mim retirou-se?
Roubar-me-ia sempre o edificante pensar?


Afasta-te de mim invulnerável ser!
Manifestou-te em meu enlouquecer,
A putrefazer, esvanecer e ao anoitecer,
Mas a paz que tinha não hei de esquecer!


Põe-te a afastar-te ao gélido correr!
Não hei, jamais, a paz de esquecer!


Ah! Foi num completo e terrível momento,
Que pus-me a escrever-vos o testamento!
Mas que pus-me também ao dolorido alento,
Dum invencível e fortíssimo sacramento!


Fim dos tempos! Morte!
Suportaríeis vós mal de tal porte?

Erich William von Tellerstein.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Poesia - Lembrai de Vossa Mortalidade!


Lembrai mortais,
De que vos sou leal:
Sou a morte!
O chegar de vossa sorte.


Do caminhar vós tendes apreciado,
Embora tivéreis muito praguejado:
Contra a vida e até mesmo a mim,
Que vos concedo prazer sem fim:


O prazer de ter consciência.


Lembrai de vossa mortalidade,
Pobres tolos da causalidade!
Vossa vaidade vos condena,
E profundamente vos aliena!


Acordai enquanto vivos, desleais!
Vossas escolhas mostram-me o caminho,
Para minhas artes mais fatais,
E preenchem-me o infernal ninho.


Severo será meu andar por terra,
Enquanto vosso viver se degenera.
Cuidai de todas as vossas palavras,
Pois de vosso infortúnio são escravas.


Intensa vaidade! Oh futilidade!
De genial monstruosidade é composta!
Enterre todos de uma vez por todas, raio,
Lançado duma vez e sem ensaio:


Para enfartar-vos os corações gelados!


Lembrai enquanto rastejam, mortais,
De que sempre vos sou leal:
Criaturas! Sou de vosso porte
Sórdidos seres da má sorte.

Erich William von Tellerstein.