Anaeteth
Um conto de Ericson Willians.
----------------------------------------------------------------------------------
Um conto de Ericson Willians.
----------------------------------------------------------------------------------
- Minha vida acabara quando atendi aquele maldito telefone,
- eu desci as escadas com o cabelo desarrumado às 3 da
- manhã sem nem ao menos entender o que estava acontecendo
- naquele momento, ele não havia me informado de
- absolutamente nada.
- Acabei por me mudar para um lugar que me jogara no abismo,
- localizado literalmente no meio do nada, já que ao redor
- do vilarejo só existem quilômetros de floresta ressecada
- e desprovida de vida.
- Meu vizinho, que me ligara a poucos instantes, era pai do
- jovem Patrick, que constantemente desaparecia, sem deixar
- pistas. Naquela mesma noite o pai de Patrick Steinhoff
- me pedira que o acompanhasses pela floresta para ajudarlhe
- na busca de seu filho, já que o mesmo tivera um pesadelo
- terrível envolvendo o seu filho e um grupo que o preocupava
- muito.
- Todos os moradores do local mantinham suas janelas fechadas
- durante a noite, assim como todas as portas trancadas,
- menos eu. Voltavam sempre para suas casas após as
- 10 horas da noite, e levavam os animais para dentro de
- seus respectivos estabelecimentos, afirmando temerosos
- acontecer coisas inexplicavelmente perturbadoras.
- Eles disseram que colocavam os animais para dentro porque
- se não o fizessem um ou dois deles morreriam de maneira
- terrível, e porque sempre que isso ocorre nunca é encontrado
- nenhum sangue dentro do anima, e que todas as
- vezes sempre ocorre entre as 10 horas da noite e 3 da madrugada.
- Para todos no vilarejo a floresta possui vida própria, e aqueles
- que lá permaneceram por alguns instantes durante este
- período voltaram em profundos estados de loucura, chorando
- em momentos indefinidos e com olhares vazios, de maneira
- que assustaria até o mais terrível dos homens.
- Mas naquele momento eu não sabia de nada, e voltando
- àquela maldita noite: Eu me senti muito mal assim que saí
- de casa, com aquela brisa gélida que carregava um cheiro
- indescritível de terra úmida, e com aquele céu cor verde-escuro
- absolutamente assustador a um ponto de me fazer
- acreditar na possibilidade do mesmo ter sugado as cores
- daquela floresta morta infernal.
- Na medida em que entrávamos na floresta o cheiro aumentava
- e de alguma forma a distância de nós dois e o vilarejo
- também, de maneira que dava a impressão de que quando
- olhávamos para trás estivéssemos cada vez mais afastados,
- e que estivesse cada vez mais escuro, e isso mesmo
- levando em consideração de que tínhamos plena consciência
- de que não tínhamos andado muito.
- Era quase impossível ouvir os próprios passos e não existia
- nenhum som no ambiente, era como se até os grilos estivessem
- mortos e os ventos não balançassem os galhos retorcidos.
- Eu me sentia cada vez mais estranho naquele lugar
- completamente enlouquecedor.
- Anaeteth! Exclamou o senhor Steinhoff, e naquele momento
- eu não havia entendido o que ele dissera, eu nunca ouvira
- este nome e nem nada parecido em absolutamente nenhum
- lugar, eu achei particularmente muito estranho ele dizer
- este nome tão repentinamente, mas eu ignorei um pouco e,
- prestando atenção aonde eu pisava, comerei a caminhar
- novamente enquanto ele começava a contar.
- Segundo ele Anaeteth é uma ordem ocultista que nasceu
- em Londres no século XVII, após o grande incêndio de
- 1666 que devastou a cidade. Um jovem excêntrico que assistira
- sua família morrer com a última epidemia da peste
- negra ficara obcecado pelo ocultismo quando encontrara
- um livro de origem obscura intitulado: Colubra Terribilis.
- Dizem as lendas que este livro é capaz de abrir as portas
- dos planos inferiores e assim possibilitar a passagem de
- demônios para o nosso plano físico e assim realizar uma
- troca de favores. Eles pedem a liberdade de poder sacrificar
- a vida de qualquer humano deste planeta, crime pelo qual é
- cometido por eles mesmos, sob o comando daquele que o
- opera, e sendo assim, eles realizam tudo o que o ocultista
- deseja.
- Pai de Patrick contava tal história com muito receio, era
- muito notável, de maneira que era como se ele estivesse
- sendo cauteloso. Após o término da conversa eu olhei para
- os céus e percebi que não havia mais nada, absolutamente
- nada, as estrelas haviam sumido! Estava tudo escuro neste
- momento como se houvesse uma camada de sombra muito
- espessa sobre a floresta.
- O meu relógio despertara, e quando eu parei para olhá-lo
- senti algo indescritivelmente terrível dentro de mim, eu não
- conseguia acreditar no que eu havia visto, eram 10 horas!
- Comecei a olhar para o senhor de maneira que o assustara,
- e rapidamente eu o informei do que eu acabara de ver.
- Sua respiração aumentara gradativamente e ele entrara
- num profundo desespero, seus olhos viraram lentamente
- para cima e logo ele perdeu sua consciência. Infelizmente,
- neste momento, começara a chover. Perdido e sem saber o
- que fazer, eu o carreguei em meus braços e caminhei aleatoriamente
- pela floresta com esperanças de encontrar alguma
- saída, me esforçando para ignorar o coro de vozes que
- se confundia com o vento e que batia fortemente em meu
- rosto, me enlouquecendo cada vez mais.
- Seguindo uma luz esverdeada no horizonte consegui encontrar
- um lugar desprovido de árvores, e lá avistei uma caverna
- iluminada por tochas e com uma escadaria. Levando
- em consideração o lugar aonde eu me encontrava e o meu
- estado só me restava descer as escadas com o intuito de
- explorar e ver se encontrava alguma ajuda ou alguma saída,
- algo que pudesse me livrar daquela situação infernal.
- Desci muito concentrado para não cair, pois o corpo estava
- muito pesado e aquele ambiente não era nada agradável,
- esta combinação certamente bagunçava com o meu equilíbrio.
- Aquela maldita escadaria aparentava não ter fim! Era
- uma estrutura de arco-romano sobre os degraus que desciam,
- e os mesmos paravam num chão plano, cuja continuação
- eram escadas iguais, e assim sucessivamente.
- Haviam inscrições por toda parte! Nas paredes, no chão, no
- teto, em tudo! Haviam também tochas nas paredes de pedra
- e estátuas em cada novo chão plano que chegava. Sem
- duvida o mais estranho disso era que as estátuas não ficavam
- nas laterais e sim no meio do chão, como se estivessem
- sendo apresentadas àqueles que entravam.
- Quanto mais eu descia, mais as estátuas tinham uma aparência
- terrível! As inscrições em cada nível da escada pareciam
- estar relacionadas a cada estátua, e todas eram numa
- língua indizível e que eu nunca havia visto em toda minha
- vida.
- Finalmente! Cheguei no último degrau! Estava quase desmaiando,
- minha mente aparentava estar sendo drenada, eu
- precisava de muita concentração para não ter que apreciar
- um cenário infernal dando voltas. De alguma forma eu não
- conseguia lembrar das coisas boas da minha vida, eu não
- tinha mais nenhuma esperança!
- O arco sobre a porta de carvalho era mais verde-escuro em
- relação às outras pedras como se estivesse apodrecendo a
- partir daquele exato ponto, e de maneira estranha o vão por
- de baixo da porta emitia uma espécie de luz negra, o que
- obviamente não fazia sentido algum.
- Mas sem pensar duas vezes, abri a porta rapidamente, para
- não ter que ficar olhando o que havia por trás daquele cenário
- pouco a pouco, para quebrar o clima de tensão. E foi
- exatamente neste momento! Finalmente, neste momento!
- Que eu desmaiei. Eu me vi exatamente no meio da floresta
- com um monte de pessoas estranhas e revestidas com um
- longo manto preto, eu não fazia mais idéia nenhuma do que
- estava acontecendo, só queria tudo aquilo acabasse, era
- tão terrível!
- De repente eu ouvi um barulho de intensidade muito grande,
- era um barulho diferente de tudo o que eu já tinha ouvido,
- e inesperadamente ficara tudo completamente preto.
- Somente após um tempo ali desmaiado, abri os olhos e me
- encontrei no meio de uma pedra, amarrado até os pés, assim
- como o Pai de Patrick no meu lado esquerdo.
- Havia um círculo de estátuas enormes, e eram as mesmas
- que eu avistara enquanto descia aquelas escadas, mas a
- diferença era a de que tamanho desta vez era monumental.
- O círculo era perfeito, e todos que estavam ali presentes
- dançavam de maneira diabólica, como se estivessem todos
- possuídos, parecia muito com uma espécie de culto ou cerimônia,
- mas não fazia idéia do propósito.
- Uma dessas pessoas não estava dançando, e esta se aproximou
- de mim, tirou-me o capuz. Era uma mulher com uma
- expressão aterradora em seu rosto, ela colocara num bloco
- de pedra entre eu e o pai de Patrick o livro, o Colubra Terribilis.
- Começara então a professar umas palavras estranhas sem
- desviar os olhos arregalados do livro, e com os braços
- abertos e levantados, mas um pouco curvados, e ela possuía
- uma espécie de véu negro que revestia a parte dos braços
- no manto negro.
- Uma espécie de respiração começara a aumentar, e pouco
- a pouco a pedra onde eu estava começara a tremer. Os
- olhos das estátuas ao redor ascenderam, e os olhares!
- Aqueles olhares! Não os esquecerei por infinitas vidas.
- Conforme os sons, urros infernais, respirações ofegantes,
- gritos e os tremores aumentavam gradativamente, tanto
- quanto, aumentava a minha loucura.
- E finalmente aquela terra negra no espaço entre mim e o
- senhor levantara com um estrondo enorme, e em menos de
- dois segundos havia uma serpente negra de três cabeças me encarando.
- Em seguida, ao som de raios, acordei em meu quarto com
- o despertador tocando, marcando a minha volta para a
- vida, eram 3 horas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário