A Beleza da Morte
Após o flamejante crepúsculo, a sombra de sua silhueta suscitara,
Em minhas paredes, pela janela, coisa que muito me atormentara.
Quando a noite caía, o mar mantinha-se agitado com freqüência,
Colocando-me num interminável e terrível estado de demência.
Vislumbrara sua aparição que aos poucos se formava,
E em meu quarto, perante a mim, com seus olhos e palavras me encantara.
Suas vestes fúnebres em sua pele branca faziam dela um ser demasiado taciturno,
Que aproximando-se cada vez mais,
Fazia-me sentir que tratava-se de um momento único e oportuno.
Suas mãos gélidas causaram-me fortes calafrios ao passarem pelo meu rosto,
E quando ela me beijara pude sentir com indizível prazer e desgosto,
A natureza mortuária que a compunha.
Minha mente ilustrara então com todas as nuances e detalhes,
Incontáveis pinturas que compreendem a arte de morrer,
Preenchendo-me com dores mundiais seculares.
E, isto posto, ao retomar a consciência, entrei num profundo estado de compreensão,
Em relação ao tempestuoso momento que se anexara
Em minha memória para sempre e acabara de vir à ascensão.
Com uma voz suave e angelical, eu pude ouvir claramente
ela dizer:
“Hei de retornar um dia para buscar-lhe, e junto com o beijo,
Desta vez, a alma de seu corpo hei de retirar."
Esboçando um leve sorriso e com um desafiador tom de ironia, eu dissera:
"Eu sei! Todos os corpos irão padecer, e desta forma, é muita
Gentileza de sua parte me conceder um beijo."
Seus olhos neste momento fizeram questão de continuar fitando-me
Por intermináveis longos instantes, e após outro beijo,
Ela desaparecera vagarosamente, deixando cinzas
Pelo chão, um anel e um papiro com os seguintes dizeres:
"Vossa mortalidade é maior que minha imortalidade, como
Mortal tendes a oportunidade de plantar e desta forma ter a
Vossa colheita. Já eu, como imortal, posso apenas ceifar, e
Tudo o que posso fazer é avisar-vos que: Ao contrário de
Vós, que como todos os outros humanos costumais plantar
Erroneamente, não existem erros no meu ceifar, e que
Esta é a verdade mais absoluta de vossa vida, e por tanto, devereis
Desfrutar em quanto viveis para poder desfrutar.”
A Morte e sua Foice
Impiedosa e avassaladora,
A todos ela vem buscar.
Com sua foice e rastejantes vestes,
Ela vem para ceifar e plantar.
Plantar a semente do poder aleatório, que é mais conhecido como vida,
E que é pouco notório, mas demasiado ilusório.
Mesmo este sendo um processo doentio e sórdido,
O mesmo pode resultar no fruto mais doce ou mórbido.
Tenebrosa é a maneira com que ela se apresenta,
Devido à recepção inócua e tempestuosa que a ostenta.
Inevitável é a sua aparição!
Infalível é a sua prontidão!
Afortunados e opulentos são os que vivem,
Desatentos e nada agradecidos destroem tudo e se inibem.
Inibição profana perante a manifestação de sua essência!
Cuja magnificência, que deveria ser inteligível,
Dorme em profunda decadência!
Futilidade reina como normalidade,
Fazendo-os esquecer de sua imprescindível pontualidade.
Manto cinza-escuro cobre este rosto abissal,
Uma figura monumental e com absoluta certeza,
Possuidora de uma eficiência mortal!
Que todos apreciem sua estadia neste planeta,
Pois não existirão erros em sua ampulheta.
Erich William von Tellerstein
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