sábado, 27 de fevereiro de 2010

Poesia - Murmúrios da Esposa



Revestiu-se com longas vestes com a cor das paredes do abismo,
Tratava-se de um vestido azul-escuro com detalhes que lembram a lua,
Indescritível!
Ela parou na sacada de seu castelo ante as colinas,
E com olhos repletos de lágrimas, utilizara de um breve aceno.


Aceno que naquele momento representava uma dor inefável,
Uma dor de quem perdia seu amor para um evento terrível da existência,
De quem perdia seu amor para a guerra!


Por incontáveis noites de solidão nos gélidos aposentos de seu recanto,
As escuras paredes contemplaram os tristes murmúrios da esposa,
Em confortante compreensão,
E durante longuíssimos anos, repletos de intermináveis e
Insuportáveis dias de dor e esperança,
Este antigo castelo que guarda memórias cujas lembranças
São tão belas quanto as rosas que compõem seu tão bem cuidado jardim,
Presenciara...


Presenciara a esposa despertando a imaginar o rústico portão,
Ranger com a entrada de seu sempre amado marido,
E dormindo também, sonhando ser acordada com seus carinhos
Que sustentavam sua vida com uma luz de proporções descomunais.


Passaram-se muitos anos e as noites tornaram-se cada vez mais tenebrosas,
Seu desespero, sua falta de compreensão e necessidade de amor aumentaram gradativamente.
A esposa já não tinha mais controle de nada,
As rosas em seu jardim dormiram para sempre num estado de morte
Que neste fúnebre dia compuseram os arredores de seu castelo com uma atmosfera de aterradora solidão.


A esposa caminhara para fora do castelo, e por entre as
Árvores escuras e retorcidas da floresta, tropeçara em
Pequenos galhos e caíra desprovida de forças na neve,
Com esperanças de encontrar seu amor perdido na floresta,
Enquanto estava num completo estado de alucinação, num sono
Que a enchera de sonhos que se misturavam com a
Realidade em alguns instantes.


Os lobos uivaram ao ouvir o impacto de seu corpo petrificado na neve,
Formando assim um coral que se misturava com o doce soprar do vento.
Estes contemplaram uma luz erguendo-se na floresta, que seguiu-se até o horizonte,
Onde encontrava-se a alma de seu marido.


Coberto de neve, seu corpo, assim como o de seu marido,
Deixou de existir com o passar dos anos, mas o amor insólito dos dois,
Permanecera e permanecerá em todos os lugares
Durante toda a eternidade, durante o infinito passar das eras.


Erich William von Tellerstein.

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